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Por Cérix Ramon, Gabriel Duarte e Guto Rabelo — de Belo Horizonte

10/12/2023 05h00 Atualizado 10/12/2023

Andrés D’Alessandro se despediu do Cruzeiro após o término do Campeonato Brasileiro. Ele decidiu voltar a Porto Alegre para ficar com a família, mas vai continuar no futebol. Em entrevista à Globo, o ex-jogador falou sobre os planos para o futebol e a experiência na SAF de Ronaldo Fenômeno.

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D’Alessandro contou que estava se sentindo sozinho em Belo Horizonte, distante da família, residente em Porto Alegre.

- Foi difícil. A gente coloca em risco algumas coisas. Sempre que mudei de clube, na Europa, Argentina, Brasil, sempre levei a família. A gente concentra muito, mas sempre a família tá em casa. Esse ano foi diferente. Chegava em casa e estava sozinho. Isso foi difícil. Mas esse desafio de não estar com a família não volta a se repetir – garantiu o ex-jogador.

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D’Alessandro exercia o papel de coordenador de futebol do Cruzeiro. Realizava o elo entre atletas, treinadores e diretoria. Também trabalhava na transição entre base e profissional. O argentino, nascido em Buenos Aires (no bairro de La Paternal) disse que gostaria de ficar no Cruzeiro, mas a distância da família pesou.

- Gostaria de ter essa continuidade no clube. Acredito que vai ser um ano melhor que esse ano. É pura e exclusivamente uma questão familiar. Passei o ano sem família, que viajou muito para Porto Alegre. O clube me deu essa possibilidade, porque meus três filhos ficaram lá. Tenho dois adolescentes e um menor, que foi quem mais que sofreu.

"Decisão exclusivamente familiar. Não vale à pena sem a família. É difícil, muito difícil. Expliquei ao Cruzeiro, e eles entenderam. Mas não poderia deixar de aprender num clube tão grande. Quando recebi a ligação do Ronaldo..."

D'Alessandro comemora vitória do Cruzeiro e celebra gol de jovem Robert

O jogador foi questionado sobre o futuro e abriu possibilidades.

- Eu gostei (ser coordenador de futebol), é uma coisa que eu continuaria fazendo. A longo prazo, não sei. Continuo sonhando com algumas coisas no futebol. Pode ser treinador, presidente... a gente não sabe. Futebol é uma arma muito grande. Às vezes, a gente não sabe o que significa o futebol. O futebol ainda me dá muitas coisas. Me gera tristeza e alegria. Esse ano foi muito marcante.

"Torcedor não sabe, mas a gente chorou muito. A gente se alegrou muito também em outros momentos. A gente fala com os atletas para curtirem, aproveitarem, porque o tempo passa"

Na entrevista à Globo, D’Alessandro também comentou sobre momentos críticos do Cruzeiro na temporada, como a discussão dos jogadores no vestiário da Arena do Jacaré, as trocas de treinadores e também a reta final de Brasileiro.

Leia o restante da entrevista:

Carreira após aposentadoria e convite do Cruzeiro

- Primeiro, obviamente, quando terminei a carreira, tinha visão do que eu poderia fazer no futebol. Minha ideia era gerir pessoas. Pela minha carreira no Inter, a gente acaba fazendo isso com funcionários, pessoas do grupo, por ser mais velho, por ser mais experiente. No convite do Cruzeiro, não duvidei. Acredito muito em desafios. Para mim, foi um desafio. Pelo clube ter vindo da Série B, pelo sofrimento nos anos anteriores, pelas coisas aconteceram. Quando recebi o convite, a estrutura que o clube tem, porque é uma SAF, é diferente. Trabalhei em clubes políticos, numa associação. A SAF vem se introduzindo de forma mais forte. Eu embarquei, não tive dúvidas. Foi uma honra para mim. Não tenho história como atleta no Cruzeiro, e isso para mim deu muito mais valor ao convite. E outra coisa é que não tinha trabalhado na função, e o clube arriscou trazer um cara com experiência no futebol, mas como atleta, e não treinador. A SAF traz pessoas que podem agregar. Formar não só atletas, mas pessoas também. O Cruzeiro vai nessa linha.

Por questão familiar, D'Alessandro decide deixar o Cruzeiro

O que fazia no Cruzeiro?

- Todo mundo chega cedo aqui (no Cruzeiro). Chegamos cedo, 7h30, 08h, preparando tudo para os atletas. Fiz parte da coordenação do Sub-20 e profissional. Minha relação com o Fernando Seabra foi muito boa. As duas equipes trabalham no mesmo horário, trabalho integral. A gente consegue controlar a transição de jogadores. Saber o que a equipe principal precisa para um, dois dias antes, falar com o Sub-20 sobre os jogadores, para eles trabalharem com a equipe profissional. Reuniões com empresários também. O clube me deu essa possibilidade de trocar uma ideia, de explicar o momento do atleta, ouvi-los. Transição do Sub-17 para o profissional, saber que atleta do Sub-17 poderia fazer essa transição também. Diferente dos atletas do Sub-20, a gente aborda de forma diferente. Tem mais a ver com disciplina, conduta. A gente passa o que viveu, da nossa experiência.

"Não é só jogar futebol bonito, mas é também passar os valores, para ele chegar e ficar, ser constante (no profissional). A gente não quer que o atleta suba para o profissional e volte. Seria uma frustração para a gente e para o atleta também. Preparar o atleta para ele entender o futebol e chegar ao profissional, o mais próximo possível, como ser humano e atleta."

Contato na base e revelações de atletas

- Tive muitas reuniões com pais de atletas. Conheci do Robert, do Kaiki, que é uma família muito humilde e que me lembra dos meus tempos com meus pais. E pediam a mesma coisa: querem que o filho seja profissional, que tenha sucesso. E eu sentava e explicava a eles, o que o clube queria, planejava. É muito fácil colocar os meninos a qualquer momento, num momento difícil, e queimar eles. O que a gente não queria era isso. Queríamos poder explicar a eles que precisa estar quase pronto, porque acredito que não esteja. Se estiver, tem que estar no profissional. Numa evolução constante para chegar o mais próximo possível. Chegamos no fim do ano com dois jogadores que fomos levando aos poucos, que são o Robert e o Japa, que vinham mostrando evolução muito grande, e que as vezes, por momentos e contextos, vamos levando as coisas mais devagar, e a gente fica feliz por eles.

D'Alessandro e Paulo Autuori Cruzeiro —
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: Staff img}/ Cruzeiro

Trabalho de integração no Cruzeiro e base

- Tive o maior prazer de trabalhar, em me envolver num projeto tão importante. O Cruzeiro começou esse projeto ano passado. Conquistou a Série B de forma bem parecida. A gente não consegue separar do que vai acontecer no dia a dia, no fim de semana. O prazer existe, mas o sofrimento existe. A responsabilidade é muito grande. O dia a dia, o que trabalhei esse ano, foi um desafio: conhecer o grupo, os jogadores, o diretor, entrar no plano administrativo. Participar de negociações, dar opinião no Sub-20, no profissional. Reuniões com empresários, que o clube foi me dando possibilidades, abertura para prender. E isso fez com que eu pudesse, no decorrer do ano, aprender com Pedro Martins, sempre acompanhando ele. Sempre sendo elo entre a comissão, jogadores e diretoria. Poder estruturar categoria Sub-20, que vinha com continuidade de trabalho muito boa com o Fernando Seabra, mas que tinha sofrido por muito tempo. A gente correu atrás, conseguiu fazer. O Cruzeiro se estruturando não só com treinadores, jogadores, funcionários, um projeto que eu aprendi. Acredito muito nisso. Quero ser campeão na base, mas o mais importante é formar jogadores.

"Categorias de base tinham sido deixadas de lado, abandonadas. Quem sabe, quem vive o futebol, sabe que não dá para recuperar o trabalho em seis meses, um ano. É muito difícil"

D'Alessandro e Ronaldo durante treino do Cruzeiro na Toca —
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: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Problemas em 2023 e mudança de elenco

- Nossos últimos meses foram difíceis, foram complicados. Sei que para o torcedor, de repente, aceitar é difícil. O clube tentou explicar, mas eu entendo o torcedor. Torcedor é passional, quer ganhar. Cruzeiro é muito grande. Quando a gente está aqui dentro, a gente vê o quanto significa o clube. A repercussão de um jogo perdido, de uma semana difícil. A realidade, internamente, tínhamos claro que seria o ano difícil, complicado. Teve mudança muito grande no clube, resolveu mudar muita coisa da Série B para a Série A. Saíram 19 jogadores e chegaram 26. É muito difícil falar que vai dar certo, porque uma coisa é ter uma base, fazer a transição da Série B para a Série A, e contratar jogadores para agregar. Começamos um ano sem base, a partir daí é um trabalho do zero, com um treinador que vinha trabalhando. A gente sabia que precisaria de tempo, só que no futebol não há tempo. Futebol não te dá tempo. Precisa de resultado para ter tranquilidade. Resultado do Mineiro não foi o que esperávamos. Mas sabíamos que era um processo.

"Mercado foi evoluindo. No meio do ano, foi muito bom. A gente foi trabalhando em cima de coisas que estávamos convictos do que poderia acontecer. Aconteceu uma coisa, que não é ideia do clube, das mudanças (de treinadores). Não é o que o clube quer, mas o ponto positivo, nesse caso, é que o clube sempre arriscou para melhorar."

Discussão no vestiário da Arena do Jacaré

- Foi muito engraçado, e eu mal tinha chegado ao clube. Fomos para a semifinal do Mineiro, e aí teve essa situação do vestiário, que teve que intervir o treinador. E falei: estão me contratando para isso, não posso escolher momento. Mas acho que foi uma intervenção natural, que pensei que tinha fazer. Teve várias assim, porque é meu trabalho, mas sempre não passando do limite, sempre não passando do time, sem passar por cima do treinador, do capitão. É uma série de coisas que a gente tem que saber. As vezes dá para falar, às vezes não dá. Têm momentos. Isso foi aprendizado também.

América vence Cruzeiro e abre vantagem na semifinal do Mineiro

Elo entre treinador e elenco

- Montagens de treinamento, mas mais participando, ouvindo, aprendendo. Participando caso eles precisassem. E, às vezes, eles falando que precisavam falar com determinado atleta, falava com o atleta, antecipava situações, prever problemas, que poderiam acontecer e não acontecer. O que deu, o que aconteceu, não acho bom agora, depois (de aposentar). Coisas que aconteciam comigo, de cabeça quente, e que não tinha gente com experiência para falar. Esse foi o dia a dia nosso. E muitas mais coisas que vão aparecendo no dia a dia, que temos dar um jeito de solucionar. Relações com outras áreas, que foi bom aprender, compartilhar momentos com atletas nas viagens. O mais importante na gestão é a confiança das pessoas.

Situação de Gilberto

- Vivemos situações, não só com o Gilberto. Situações normais, que a gente tem que lidar. Joguei com ele, tenho amizade com ele (Gilberto). Fiquei muito feliz de chegar ao Cruzeiro e ver jogadores que jogaram comigo. Isso encurta minha adaptação. Mas aconteceram várias coisas que a gente não externa. E isso é positivo no nosso clube. De repente, o torcedor não sabe o que o D’Alessandro fez. Torcedor precisa de informação, mas o importante é a diretoria e grupo de jogadores saberem o que a gente faz. A gente trabalhou bastante, trabalhou muito. No dia a dia para manter o grupo focado, jogadores mentalmente fortes. A minha relação com eles, acredito que tenha sido muito boa. Muita conversa, não invadir o lugar deles. Fui atleta e sei como é. Sei como abordar atleta, quando abordar.

"Do Gilberto, tentamos gerir da melhor maneira. Mas aqui há um objetivo claro: o clube. Fazemos gestão de pessoas olhando para o objetivo maior, que é o Cruzeiro. E no olho a olho. Acredito muito nisso. Acredito que tenha feito trabalho de formiga esse ano. Mas acredito que fizemos bem para chegar ao fim do ano com as coisas claras."

Gilberto no Cruzeiro —
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: Fernando Moreno/AGIF

Balanço do trabalho no Cruzeiro

- Positivo (balanço do ano). Tem a ver com a realidade que a gente viu. Joguei a Série B pelo Inter e subi com o Inter. O primeiro ano de retorno é fundamental para se manter. Quando você sobe, não só muda o elenco. Muda o contexto, a estrutura, um monte de coisas. O dia a dia, o torcedor não vê, mas muda muita coisa. Mas é positivo, porque eu fazendo avaliação rápida só um (que subiu em 2023) brigou pelo título: o Grêmio. Brigou pela Libertadores também. O Grêmio jogou a Série B com uma base profissional, com jogadores que tinham vencido no clube, que conheciam o clube, tinham uma história no clube. Ele manteve essa base e, depois, fez contratações pontuais. Isso encurtou o processo.

"Vasco, Bahia e Cruzeiro, só o Cruzeiro chegou à ultima rodada podendo respirar. Vasco e Bahia investiram o dobro do Cruzeiro."

Pontos a melhorar para 2024 no Cruzeiro

- Têm coisas que a gente leva em conta. Têm coisas que temos que melhorar? Claro que temos. Cruzeiro vai ter que melhorar para o ano que vem. Ano que vem vai ser mais fácil para orçamento, ter mais possibilidade. Mas era o ano que teria que passar. Na minha opinião, não era para chegar no final com tanto sofrimento para nós. Até por merecimento. Cruzeiro mereceu pontos a mais que teve. Deixamos escapar pontos que não merecíamos, mas também ganhamos jogos que não estivemos bem. Mas não merecíamos chegar à penúltima rodada dependendo de outros resultados.

"A gente merecia, pelo trabalho que o Cruzeiro, e os jogos do campeonato inteiro, ter seis pontos a mais, que estavam na mão e perdemos. Futebol não é matemática, tem muita coisa. No último terço do campeonato, fomos indo e conseguimos objetivos a curto prazo."

D'Alessandro —
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: Globo

O que esperar do Cruzeiro?

- Só coisa boa (no futuro). É o meu desejo. O meu desejo é que o Cruzeiro continue crescendo. A SAF vem para quebrar culturas no futebol. Isso não é fácil. As pessoas que estão na SAF estão convencidas do que querem para o clube. Não é o desse ano, é muito maior. Mas é um processo que o clube tem que passar. O objetivo maior é esse. Mas formar atletas, pessoas, continuar crescendo como instituição, melhorar a estrutura. O futebol tem que continuar melhorando? Sim, mas a estrutura também. O clube tem tudo para continuar melhorando.

Sentimento pelo Cruzeiro

- Vou ser mais um cara que vai torcer para o bem do clube. Não vou falar como torcedor, porque torço para o Internacional. Sou um cara que vai torcer para o bem do clube, que saiu de uma situação e que vá melhorando ano após anos. A torcida me deixou impressionada. Sinceramente, quando a torcida do Cruzeiro quer, ela leva o time. E falar para o torcedor, agradecer pelo respeito, respeito na rua, quando encontrava o torcedor. As dúvidas sempre existiram, porque é normal, quer uma pessoa identificada com o clube. Mas é muito mais do que isso. A torcida pode querer alguém identificado, mas ter que ter capacidade para ir longe.

Assista: tudo sobre o Cruzeiro no ge, na Globo e no Sportv

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